“Cara, você vai fazer 40 anos gordo desse jeito?
Quando um amigo fala assim olhando no seu olho, são dois caminhos que você pode escolher: ficar com ódio e perder o amigo ou olhar no espelho e tomar uma providência. O ano: 2017. Três anos mais tarde, 3 maratonas no currículo 30 quilos a menos no corpo, Ronaldo Bahia, o Ronaldinho para os novos amigos da corrida, fala com a alegria de quem descobriu na corrida mais que uma atividade física que o levaria a perder peso. “Conheci outro mundo.”
Aqui ele conta um pouco da sua história na aventura da corrida de rua…
Não é fácil ouvir isso. Vindo de um amigo, é muito duro. No início eu fiquei com raiva. A raiva virou um incômodo e o incômodo se transformou em ação. Eu, que jogava minha peteca e achava que tava muito bom, calcei meus tênis, vesti um bermudão e saí correndo pela rua. Eu não sabia absolutamente nada sobre corrida de rua, nem sabia que as pessoas praticavam corrida como esporte. Aquelas palavras do meu amigo ficaram na minha cabeça e eu só pensava que precisava resolver essa questão.

Isso foi no início de 2017. Os mais de 30 quilos acima do peso faziam doer os joelhos, as articulações, tudo. Minha primeira prova veio tão por acaso quanto meus treinos sem qualquer orientação. Aquele mesmo amigo que me despertou para uma mudança de atitude me convidou e lá fui eu. Até então, só vinha correndo 5 km e me inscrevi para essa prova de 10 km. Tomei quase um litro de Açaí antes da prova e fui. Relógio, tempo, pace, ritmo eram palavras que não faziam o menor sentido pra mim. Eu só corria. Quando terminou, eu olhei pro lado e vi aquele mundo de gente feliz, comemorando, celebrando suas conquistas, vibrando com os resultados tirando fotos… Eu achei aquele negócio lindo. Aquilo me tocou. Quando eu olhei pra medalha, a primeira que eu tinha ganho… aquilo ficou na minha cabeça.
Quando me falaram pra procurar o Heleno, pra mim era tipo um cara que corria na rua como eu, só que tinha uma turma que corria com ele. Eu pensei: “Como que eu vou chegar pro cara e falar – Oi, Tudo bem? posso correr com vocês?”
Depois do meu teste de 3 km, sentei no meio-fio e a turma do treino vai se aproximando…
“E aí, fulano, como foi a maratona de Berlim?” E outro: E aí, cara? Já terminou seu longo? Como foi? – Ah, 32. E eu ouvindo e pensando…pô, o cara correu 32 min…
Quando eu entendi que eram 32 km e ele tava ali batendo papo…
E eu tinha corrido 10 km e tava quase morrendo…
Isso foi em meados de 2017. Alguns quilos já tinham ido embora e quando eu vi o que era uma assessoria de corrida, foi outro choque. Um novo universo se abriu na minha frente. Vieram as planilhas, eu comecei a entender o processo, o que era limiar, o que era intervalado, correção de postura, passada, braço principalmente (que até hoje não consegui corrigir) até que a corrida se transformou numa paixão.Rodrigo Brison foi outra referência. Um dia, faltando 3 voltas pra eu terminar meu treino, dei uma volta de 1 kmcorrendo num pace de 3’25”. Aí o Georgio falou que não era possível. Dei outra com ele marcando o tempo, deu os mesmos 3’25”. Fiz o mesmo tempo 3 vezes. O Rodrigo Brison estava lá e falou: “Cara, que isso? Que raça é essa?” O Brison ganhou muitas provas pela HF….
Aí chegou em 2018, me inscrevi para a Maratona do Rio. Antes dela, fiz a meia da Asics (que não tem mais), fiz prova de 10 do Circuito das Estações. No 2º semestre fiz Buenos Aires (maratona) e fiz Pampulha no fim do ano. No início do ano fiz o Circuito das Estações 10 km com recorde pessoal de 38’40”.
Olhando pra trás, posso dizer que tudo começou naquelas 3 voltinhas no Belvedere que eu fiz e que o Brison comentou que eu tinha feito algo grande. Aquilo pra mim foi um gatilho. Ali eu percebi que eu poderia melhorar bastante. Eu treinava mas não tinha essa noção. Ali eu vi que eu poderia melhorar. Eu sempre fiz treino meio solto. Hoje eu olho o treino e me dá um frio na barriga. Eu deito e fico pensando nas estratégias, um trabalho mental porque tem treino que exige mais força, você pensa que não pode machucar.

Crédito: Acervo pessoal
O dia que eu não corro é um dia que não tá legal
Eu não sou um corredor experiente. Apesar de estar cercado de muitos corredores experientes como Nelsinho, Márcio da Mata, Rangel, Marquinho… e de ter uma performance relativamente boa, eu não me considero experiente. O fantástico da corrida é isso: você está cercado de pessoas que te ajudam sem te pedir nada em troca, até porque eu não tenho nada pra dar. Já teve corredor na HF que já correu comigo 10km me explicando as coisas…me falando o que é bom, o que é ruim, como posso melhorar…então isso me encanta. O corredor amador pode ser até bom corredor, mas nós nunca vamos disputar uma corrida na elite, treinamos quase que diariamente e corremos as provas de 5, 10, meia maratona e maratona para colocar em prática o que fazemos nos treinos e bater os records pessoais. Eu só disputo comigo mesmo, não tenho que provar nada pra ninguém.
As metas existem para todos os corredores. Essa meta de correr 10km abaixo de 40min eu nem tinha comigo, sem querer isso entrou na minha cabeça, então eu comecei a trabalhar pra isso. É muito bom colocar metas na corrida te ajuda em todos os sentidos, principalmente no estilo de vida, hoje eu bebo muito menos que eu bebia porque eu quero estar bem pra correr e a bebida faz seu rendimento na corrida cair e o sofrimento é maior.
Eu sou asmático de tomar remédio controlado mas não tenho crise mais. Hoje tomo medicamento muito mais leve que tomava. Eu perdi mais de 30 quilos. Minha saúde é de ferro. Meus exames estão perfeitos. Qualidade de vida, A autoestima melhora 200 por cento. Hoje, posso dizer que minha vida é o inverso. Eu entrei na HF pra correr pensando que queria emagrecer e hoje eu quero emagrecer mais pra correr melhor.
A corrida ocupa um lugar muito importante na minha vida. Correr com você mesmo, em estado quase meditativo, em muitos momentos eu consigo resolver problemas durante um treino.
*Quando deu essa entrevista, Ronaldinho tinha duas metas a médio prazo: correr uma meia-maratona abaixo de 1h30 e fazer uma maratona sub-3. As duas já foram cumpridas:
Meia-maratona do Rio 2019. Tempo: 1h27
Maratona de Porto Alegre 2019: Tempo: 2h57
Que venham as próximas!